Traduzida do The Guardian.
Ativistas de várias cidades ao redor do mundo defendem as árvores urbanas – para diminuir a poluição, aumentar o valor da terra e até mesmo te rejuvenescer.
Rustlings Road tem um nome apropriado. A rua em Sheffield é enfileirada com limoeiros maduros. Suas folhas sussurrantes são verdes e brilhantes na primavera, espalhadas no inverno, manchadas no verão e se tornam amarelas e brilhantes no outono. Porém, a câmara da cidade de Sheffield quer podá-las, e a disputa em volta dos 11 limoeiros se transformou numa campanha pela cidade inteira, com mais de 10 mil pessoas encorajando a câmara a deter a derrubada do acostamento verde. Eu também inflamei um debate amplo sobre o que 36 mil árvores de rua fazem por um lugar que reivindica ser a cidade industrial mais arborizada da Europa ocidental.
Esse conflito mostra como as árvores de rua são estimadas e estão em perigo como nunca – assoladas por doenças e falsos seguros contra sinistros, e por autoridades locais gananciosas que apenas enxergam seus potenciais custos em oposição à sua contribuição para o clima, para a saúde pública e até mesmo para a riqueza de uma cidade. Desde que Roger Ulrich descobriu em 1984 que pacientes aparentam se recuperar mais rapidamente de cirurgias com vistas verdes, um corpo de evidências científicas tem demonstrado os benefícios para a saúde – e para a riqueza – das árvores nas cidades.
Em Toronto, recentemente, pesquisadores descobriram que moradores de ruas alinhadas por árvores apresentaram benefícios para a saúde equivalentes à de uma idade 7 anos mais jovem e um aumento no salário em 10 mil dólares. Assim como estudos revelando benefícios, desde uma melhora na saúde mental até a redução da asma, cientistas norte-americanos ainda identificaram uma relação entre o aumento da cobertura de copas de árvores e a redução de nascimentos de bebês com peso abaixo da média. E estudos econômicos mostram o que qualquer agente imobiliário sonha: ruas com folhas vendem casas. Ruas com árvores em Portland e Oregon produziram um aumento dos preços das casas em $1,35 bilhões, potencialmente aumentando o valor anual de revenda em $15,3 milhões.
Apesar do persuasivo apoio científico pela vegetação urbana, as árvores nas ruas britânicas estão sob ameaça pela ausência de qualquer departamento do governo ou conselho nacional que olhe por elas (diferentemente das matas próprias do governo, que são administradas pela Forestry Commission). As árvores urbanas se encontram a mercê de conselhos locais gananciosos e de uma mistura de agências, desde associações imobiliárias até autoridades rodoviárias, que podem ignorar seu real valor. No entanto, como moradores de Sheffield montaram uma defesa desesperada das suas árvores, alguns conselhos e urbanistas parecem ter entendido o valor de suas florestas urbanas.
Em Brighton, três especialistas do outro lado da Europa se reuniram no último mês e pediram o status de patrimônio mundial à uma das menos festivas atrações da cidade – a excepcional população de ulmeiros que sobreviveu à doença holandesa do olmeiro, que destruiu a maioria das espécies nos anos 70. O prefeito de Londres, Boris Johnson, plantou 20 mil árvores urbanas em 7 anos, mas essa realização – elogiada pelos três especialistas – é mínima em comparação com a do prefeito de Toronto, John Tory, que plantou 40 mil árvores desde sua vitória nas eleições em Dezembro e prometeu 3,8 milhões ao longo da próxima década.
Árvores de cidades estão sendo agora mapeadas com precisão, mostrando a abundância de diferentes espécies the enfileiram avenidas em todo lugar, desde Nova York e Washington até o bairro londrino de Southwark.
Em Londres, um levantamento inovador revelará o valor econômico da floresta urbana da capital – estima-se que existam 8 milhões de árvores. Um software de código aberto desenvolvido nos Estados Unidos, chamado i-Tree, mapeia árvores e calcula o valor financeiro dos “serviços ecossistêmicos” que elas produzem. Enquanto árvores urbanas são um carimbo verde numa cidade, 70% da floresta urbana é encontrada em jardins privados e locais como aterros de ferrovias, cemitérios e campos de golfe. O i-Tree mede tudo isso e calcula a cobertura das copas das árvores. Então ele dá um prático valor financeiro baseado no carbono que elas guardam, a poluição do ar que removem, a água da chuva que armazenam (permitindo a evaporização novamente pelo sol ao invés de desaparecer em bueiros e encanamentos) e em como elas aliviam as temperaturas extremas. As árvores que estão próximas a prédios reduzem o uso do ar-condicionado no verão, e até mesmo as contas de aquecimento no inverno – pequenos efeitos que se tornam extremamente valiosos numa cidade grande.
O software foi implementado em cidades europeias, incluindo Edimburgo, Barcelona e Estrasburgo. Torbay em Devon foi a primeiro câmara britânica a experimentá-lo: o resort da Riviera Inglesa famoso por suas palmeiras descobriu que suas árvores (a maioria do gênero freixo) armazenou 98 mil toneladas de carbono e removeu 50 toneladas de poluição do ar por ano – o equivalente a remover 52 mil carros das ruas. O i-Tree mostrou que o carbono armazenado nas árvores de Torbay valia £1,5 milhão, a remoção da poluição, £1,3 milhão, e o custo para substituí-las de £280 milhões. Estes fatos ajudaram o oficial responsável na câmara a ganhar mais fundos para o plantio e manutenção das espécies.
Jake Tibbetts, um membro da London Tree Officers’ Association, levou pesquisas do i-Tree por Londres, usando voluntários para reduzir os custos (tipicamente, uma enquete custa entre £30 mil e £50 mil de acordo com o Treeconomics, o empreendimento social que levou o i-Tree para o Reino Unido). “Uma das coisas boas sobre árvores é que as pessoas são apaixonadas por elas. Se estivéssemos realizando uma pesquisa sobre lâmpadas de ruas e bollards, seria bem mais difícil de achar voluntários”, afirma Tibbetts. Ele ficou surpreso com a revelação da pesquisa: uma das árvores mais comuns do centro de Londres é na verdade, a macieira, escondida em jardins.
Tibbetts diz: “o i-Tree é uma oportunidade real de finalmente valorar os recursos das árvores londrinas e valor financeiro é algo que todos entendem”. A pesquisa não é exatamente abrangente – ela não calcula benefícios mentais ou físicos, por exemplo, ou o valor cultural das árvores – mas Tibbetts está esperançoso que ela irá elevar a consciência da “significativa ameaça” à floresta urbana de Londres. “Créditos de seguros (para raízes causando subsidência de construções ou calçadas desiguais que provocam acidentes) são um grande risco financeiro para as autoridades locais, mas para as florestas urbanas, a principal ameaça é o desenvolvimento e a condescendência”, ele diz. “Nós acreditamos que viemos de uma terra verde e agradável com muitas árvores – quando construtores removem duas árvores, nós pensamos que há muitas delas ainda.”
Os resultados do i-Tree de Londres serão publicados neste outono, e irão provar que as árvores da capital são uma peça multimilionária de infraestrutura, mas também mostrarão que a cidade tem um problema – a dependência das árvores planas. Essas gigantes majestosas dão grande prazer aos visitantes de Westminster and the City e desempenham um papel vital também. Tibbetts registrou a temperatura nas ruas de Londres durante a recente onda de calor, e descobriu que as temperaturas estavam 10ºC mais baixas embaixo das sombras das grandes árvores planas. “Isso será muito importante quando as temperaturas aumentarem com a mudança climática”, diz Tibbetts. “Árvores são uma alternativa de baixo custo para tornar da cidade, um lugar confortável para se viver e trabalhar”.
De acordo com Kenton Rogers do Treeconomis, não mais que 10% das árvores em uma rua devem ser da mesma espécie. Uma pesquisa da Treeconomics descobriu que 30% de todas as árvores do distrito comercial londrino de Victoria eram planas, e por serem tão grandes, elas realizam 60% dos serviços ecossistêmicos em Victoria. “Com a mudança climática e a globalização de pestes e doenças, Londres está mais vulnerável que qualquer lugar com uma paisagem arbórea mais diversa”, diz Rogers.
As doenças são possivelmente a mais terrível ameaça para as planas de Londres. Uma traqueomicose atingiu centenas de árvores maduras na França, e agora se espalhou pelo norte, até Lille. Se cruzasse o canal, isso transformaria a capital inglesa tão dramaticamente quanto os bombardeiros aéreos da Segunda Guerra fizeram. Em caso negativo, as planas envelhecidas ainda teriam que ser substituídas. O estudo de Rogers sobre Victoria descobriu que a maioria estava sendo reposta por espécies que não crescerão tanto, e nunca irão desempenhar os valiosos serviços que as grandes planas fazem.
Keith Sacre do Barcham Trees, o maior viveiro de árvores na Europa, fornecendo mais de 60 mil a cada ano, afirma que as árvores convencionais de rua que eles vendem para os bairros de Londres tem 3,5m de altura com uma circunferência de 14cm. Ele calcula que para replicar a área foliar de apenas uma plana madura no Embankment, 60 novas árvores teriam que ser plantadas. “Reposição de um para um é loucura”, ele diz. “Plantar deve ser algo lento, constante, planejado e exige recursos. Deve se ter um longo comprometimento para reconhecer árvores como ativos que são.”
Infelizmente, a substituição de árvores maduras por espécies ornamentais e delicadas é uma tendência em várias cidades, criando “paisagens de pirulito”, de acordo com Mark Johnston, autor de Trees in Towns and Cities. “Autoridades locais estão reduzindo gastos com manutenção e supervisão de árvores, então profissionais estão relutantes em plantar grandes exemplares. Eles irão colocar pequenas espécies que não irão contribuir muito para a paisagem e não oferecerão muito com serviços ecossistêmicos.”
Isso, dizem os moradores de Sheffield, é exatamente o que está acontecendo com a cidade. Ian Rotherham, professor de geografia ambiental na Sheffield Hallam, diz que a remoção das árvores urbanas é uma consequência de quase uma década de austeridade. “Grandes distritos metropolitanos estão seriamente em desvantagem pela redução do dinheiro per capita que recebem do atual governo. A solução para os severos cortes tem sido parcerias público-privadas”, ele argumenta. Em Sheffield, a câmara assinou um contrato de 25 anos com a iniciativa privada, a Amey em 2012, para gerir e aperfeiçoar suas ruas, incluindo a parte verde. Rotherham e outros ativistas argumentam que a remoção de árvores maduras pela Amey é por ser a opção mais barata, minimizando custos com podas e o prejuízo para o asfalto. Porém, pedidos por informações sobre os custos das remoções foram frustrados pela “confidencialidade comercial”, citada pela câmara e seus contratados. “Sem qualquer consulta pública ou conscientização, nós, de alguma maneira, estamos presos nessa situação onde há um acordo de 25 anos sobre nossa infraestrutura verde e os moradores locais não podem dizer nada”, diz Rotherham.
Terry Fox, membro do gabinete de meio ambiente e transporte da câmara de Sheffield, diz que é um “mito” que remover árvores maduras é a alternativa mais barata. A câmara afirma que não pode revelar os custos comparativos entre a remoção e a manutenção porque ela simplesmente paga uma taxa anual por todos serviços incluídos no contrato, do qual a manutenção das árvores é uma. “Sheffield é a cidade mais verde do Reino Unido, com mais de 2 milhões de árvores – 4 por pessoa. Isso é algo do qual nós somos orgulhosos. Para ajudar a preservar nosso status verde, nós, neste ano apenas, plantamos 50 mil exemplares, criando 17 novos bosques, diz Fox em pronunciamento. “A remoção de qualquer árvore é sempre a última estância e olhamos todas opções viáveis antes de considerar a derrubada.”
Em 2007, uma pesquisa sugeriu que 75% das árvores à beira das ruas de Sheffield estavam se aproximando do fim de sua vida natural. A política da gestão de árvores da câmara é remover e substituir árvores que representam risco, estão mortas, morrendo, prejudicando a rua ou calçada, ou causando “discriminação”. Por esse último, a câmara entende calçadas danificadas por raízes e potencialmente obstruindo a passagem de portadores de necessidades especiais. Na Rustlings Road, entretanto, ativistas filmaram duas pessoas utilizando scooters motorizadas lado a lado, passando seguramente pela calçada abaixo de árvores assinaladas com o aviso de “descriminação”. “Nós temos alguns “poréns” também”, diz Louise Wilcockson, um morador local. “Nós achamos que a atitude da câmera é desproporcional e que eles deveriam usar algum discernimento profissional em relação às árvores ‘perigosas'”.
A câmara municipal de Sheffield estabeleceu agora um “fórum das árvores” para especialistas e moradores discutirem planos para uma estratégia no próximo mês de março. “Nós estamos encantados, mas quantas árvores serão cortadas até lá?” indaga Wilcockson, que é cético em relação ao fórum. Da mesma forma que Fox coloca no seu pronunciamento, o fórum é “para possibilitar ao público entender melhor nossa abordagem na gestão das árvores da cidade”. Ele confirma que a câmera ainda planeja remover os 11 limoeiros na Rustlings Road, e irá substituí-los e plantar 9 árvores adicionais na rua.
“Isso não é um assunto paroquial, é um grande tema sobre privatizar serviços das autoridades locais”, afirma Rotherham, que foi contatado pelos moradores de Birmingham, Southampton e Leicester, também preocupados com a remoção de árvores maduras. “Em Sheffield, os custos são: o recurso da árvore, o valor da iniciativa privada e os residentes locais que estão realmente irritados. Não deveríamos depreciar isso – nós sabemos que as árvores fazem as pessoas mais felizes e mais saudáveis.”